Manejo adequado e tecnologia reduzem impactos das queimadas e podem e otimizar recuperação das lavouras
Com o aumento das queimadas em áreas agrícolas, produtores procuram meios de mitigar os danos causados. Segundo a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), as queimadas registradas desde o fim de agosto deste ano, já atingiram uma área de cerca de 180 mil hectares, gerando um prejuízo estimado de R$ 1,2 bilhão.
Todavia, o problema é antigo, em 2023, um estudo da MapBiomas aponta que as queimadas agrícolas aumentaram 15% em relação ao ano anterior, causando prejuízos econômicos que superam os R$ 5 bilhões, somente no setor sucroenergético. E dados recentes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indicam que as queimadas no Brasil cresceram significativamente nos últimos anos, afetando diretamente a produção agrícola. Só no setor de cana-de-açúcar, as perdas de produtividade devido às queimadas representam até 20% em áreas severamente atingidas.
Uma das propriedades afetadas foi a de André Tozo Geraldo, produtor de cana-de-açúcar em General Salgado, no interior paulista. O fogo de três horas em sua lavoura foi suficiente para destruir 110 hectares. “A primeira reação foi chamar ajuda da usina parceira. Não temos a quem recorrer a não ser às usinas que tem a estrutura de brigada de incêndio”, relembra.
O fazendeiro já até faz cálculos dos prejuízos causados pelo incêndio. “Precisaremos refazer a aplicação de herbicida, que é equivalente a R$ 350 por hectare; refazer uma parte da adubação, que é cerca de R$ 300 por hectare, contando a operação e o insumo e repor carga biológica e matéria orgânica perdida com a incidência do fogo”, estima Geraldo. Segundo o agricultor, serão pelo menos três meses de atraso no ciclo da cana.
Como mitigar danos de queimadas
Relatórios da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) revelam que, ao aplicar práticas adequadas de manejo e recuperação pós-queimada, os produtores podem reduzir as perdas financeiras em até 35%, além de restaurar a produtividade em 70% das áreas afetadas dentro de um ano
Para Bruno Fazolo, agrônomo e gerente técnico de mercado na Nitro, as práticas usuais realizadas pós-incêndios invitalmente geram prejuízos as lavouras. “O produtor deve refazer os tratos culturais básicos, como adubar de novo o canavial e aplicar herbicidas. Essas são as práticas normais, mas que acarretam um grande prejuízo para o produtor”, explica.
O uso de bioinsumos, como bactérias e até algas, no entanto, podem agilizar o processo de recuperação. “É crucial retrabalhar as condições do solo, inserindo bacilos e trichoderma novamente, pois eles agem de maneiras distintas. Assim que o canavial volta a crescer, devemos entrar com produtos que contenham aminoácidos e algas como o Ascophyllum. Essa alga, que suporta condições extremas de sol e maré, é importante para dar resistência ao canavial”, indica Bruno.
Quando o canavial começar a ter folhas novas, segundo o agrônomo, é importante tratar com micronutrientes que vão ajudar na recuperação completa, considerando a falta de nutrientes e estresse que ele sofreu.
No entanto, a procura de insumos após a queimada, ao mesmo tempo, do início de plantio da safra de grãos, pode prejudicar o abastecimento de insumos e disparar preços. “O mercado não estava esperando por isso, e agora entramos na safra de grãos, que já tem uma adoção grande de biológicos. Isso pode causar uma disparada nos preços e na disponibilidade dos insumos”, alerta.
*Sob orientação de Marcelo Beledeli
Fonte: GloboRural