Avaliação é do Rabobank. Desaceleração é atribuída à quebra de safra de grãos no Centro-Oeste e aos baixos preços das commodities
A indústria de defensivos químicos está em um de seus piores momentos no Brasil, com problemas de liquidez, fechamento ou retração nos negócios de revendas. Já os produtos de controle biológico, apontados como uma promessa de alta adoção no campo, devem até aumentar, mas em um ritmo mais lento do que o esperado para a safra 2023/2024.
Segundo o analista do Rabobank, Bruno Fonseca, o mercado de biodefensivos pode crescer este ano 10%, o que representa uma redução de cinco pontos percentuais ao observado na safra 2022/23, quando a alta foi de 15% no país. No ciclo passado, esse mercado movimentou R$ 5 bilhões.
A desaceleração é atribuída à quebra de safra de grãos no Centro-Oeste, principal região de soja, e aos baixos preços das commodities, afetados pelas condições climáticas e taxa cambial, segundo um recente relatório do Rabobank.
O documento mostra que as margens operacionais dos produtores devem continuar comprimidas até o término da safra atual e podem até permanecer no início da próxima (2024/25). Isso pode refletir na aquisição de defensivos biológicos, assim como de outros insumos.
“Devemos observar crescimento em biodefensivos, ainda que a uma taxa menor do que nos últimos anos”, diz Fonseca. A pressão sob os preços das commodities tem gerado um comportamento nos agricultores de segurar custos e os insumos, de forma geral, entram nessa conta.
O especialista salienta que o movimento mais lento dos biodefensivos é esperado, já que o “boom de biológicos no país veio de anos de margem operacional muito boa para produtores e para a indústria”. Fonseca acrescenta que, em geral, o mercado de bioinsumos também vivencia condições econômicas diferentes do que foi projetada até 2023, o que gera incertezas em relação a projeções mais fortes de crescimento.
“A queda em relação a 2022/23 não é um recuo preocupante, mas demonstra o produtor tentando reavaliar todos os custos. Este é um ano de margens super apertadas e é a condição da safra que vai impor a economia do produtor, não o fato dele acreditar ou não no produto”, disse à reportagem.
Mercado morno
Fonseca relembra que o mercado de defensivos biológicos vinha de uma boa fase de lançamentos e negociações, com destaque a aquisição da empresa brasileira Biotrop pela belga Biobest, que atua no segmento e já estava em 20 países. A compra foi de mais de 444 milhões de euros em dezembro do ano passado.
O otimismo se baseia na diversificação de negócios que as empresas químicas devem fazer, segundo o relatório bancário. Enquanto as empresas de defensivos biológicos poderiam, se necessário, ceder parte da margem este ano para manter os volumes de venda.
Na visão do Rabobank, o mercado já conquistado pelos defensivos biológicos não deve ser perdido, muito pelo sucesso dos produtos consumidos nas safras recentes.
“Para a próxima safra brasileira que inicia seu plantio a partir de setembro de 2024, a perspectiva é de que veremos se repetir o cenário de margens operacionais mais apertadas, tanto para a soja, quanto para o milho safrinha. Essas perspectivas têm trazido incertezas para o agronegócio como um todo, incluindo aqui também as empresas de defensivos biológicos”, diz o relatório.
Nos últimos meses, as cotações de grãos vêm caindo e, desta forma, colocando pressão nas margens dos produtores, que se encontram mais comprimidas do que durante o período 2020-2023, informa o relatório do banco assinado por Fonseca. Como consequência, a indústria de biológicos também passa por incertezas, apesar de até o momento o negócio ter se mostrado altamente rentável.
Segundo a Blink/Croplife o mercado atual de bioinsumos no mundo, incluindo todos os segmentos de controle, inoculantes, bioestimulantes e solubilizadores, estava entre US$ 13 bilhões e US$ 15 bilhões em 2023. A previsão de crescimento anual global até 2032 está entre 13% e 14%, o que equivale a chegar US$ 45 bilhões. Isso significa crescer três vezes em nove anos.
Ciência dos bioinsumos
Na contramão das contas das empresas, a evolução de pesquisa científica no Brasil é fator diferencial para bioinsumos. De acordo com o relatório do Rabobank, são 23 as companhias associadas à Câmara de Bioinsumos, que representam 80% do mercado de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) do país.
Não é possível dizer que o Brasil poderá exportar esse tipo de produto a médio prazo para vizinhos ou outros parceiros comerciais já consolidados, mas a celeridade dos trabalhos em laboratório ajuda a projetar novos lançamentos nacionais.
“É um mercado do futuro com um regulatório avançando no país, que vai servir de exemplo para referenciar esse tipo de produto em outros mercados internacionais”, salienta Fonseca.
Conforme informações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), entre 2015 e 2023 foram documentados 620 defensivos biológicos no Brasil. Desses, 413 foram catalogados entre 2020 e 2023, representando quase 70% dos produtos arquivados ao longo dos últimos quatro anos.
Fonte: GloboRural