Reflexos negativos da pandemia sobre a atividade econômica e a piora das projeções para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2021 motivaram a queda do Índice de Confiança do Agronegócio (IC Agro) calculado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pela CropLife Brasil no primeiro trimestre. Mas a nova colheita recorde de grãos nesta safra 2020/21 e os preços elevados de commodities como soja e milho mantiveram o indicador ainda em um patamar considerado elevado.
Segundo resultados divulgados há pouco, o indicador caiu 3,3% ante o quarto trimestre de 2020 (121,4 pontos), para 117,4 pontos, e ficou 7,6% abaixo do patamar recorde observado entre julho e setembro do ano passado (127 pontos). A escala do IC Agro vai de zero a 200, e 100 é o ponto neutro. O resultado é dimensionado a partir de 1,5 mil entrevistas (645 válidas) com agricultores e pecuaristas de todo o país. Cerca de 50 indústrias também são ouvidas.
“Pegamos a fase do avanço no número de casos de covid-19 [a maior parte das entrevistas foi feita em março], o que levou a uma redução na atividade devido a lockdowns em várias regiões do país e a sucessivas revisões negativas nas estimativas para o crescimento do PIB em 2021”, afirma Roberto Betancourt, diretor do Departamento do Agronegócio (Deagro) da Fiesp, em nota. Ele realça, porém, que na comparação com o primeiro trimestre de 2020 a alta chegou a praticamente 17%. A última vez em que o IC Agro recuou abaixo de 100 pontos foi no segundo trimestre de 2018.
O índice que mede especificamente a confiança dos produtores agropecuários registrou apenas uma leve retração, de 127,6 pontos no quarto trimestre do ano passado para 126,7 pontos. Os agricultores continuam animados com colheita, preços e câmbio, ao passo que os pecuaristas seguem beneficiados pelas altas do boi gordo e do leite. Nos dois casos, contudo, o aumento de custos permanece como o grande ponto de preocupação.
Já o indicador que inclui indústrias que atuam antes e depois da porteira caiu de 116,9 pontos, no quarto trimestre de 2020, para 110,7 entre janeiro e março. “Os produtores começaram a se afastar das negociações, que evoluíram pouco em março — em parte pelo atraso na colheita da soja, mas também pelo aumento dos preços dos insumos causado pela desvalorização do real. Isso mostrou que, talvez, o mercado não evolua tanto quanto se imaginava”, diz Christian Lohbauer, presidente da CropLife Brasil, que representa empresas de insumos.
Fonte: Valor