Os produtores brasileiros podem enfrentar desafios na próxima safra devido ao possível retorno do fenômeno El Niño. Após três anos de influência do La Niña, especialistas em clima alertam que o El Niño pode causar mudanças significativas nos resultados da safra. A ONU divulgou recentemente que as chances de o El Niño ocorrer nos próximos meses aumentaram para 60% entre maio e julho, e essa probabilidade continua crescendo até o final do ano, atingindo 80% entre julho e setembro.
Através da Organização Meteorológica Mundial (WMO), a ONU informou que os países devem se preparar para temperaturas recordes com a chegada do El Niño. Apesar dos últimos três anos terem sido marcados pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico devido ao La Niña, o planeta registrou alguns dos anos mais quentes da história.
Agora, a iminência do retorno do fenômeno “irmão” preocupa cientistas e autoridades. Petteri Taalas, secretário-geral da WMO, declarou que “o desenvolvimento de um El Niño deve levar a um novo pico de aquecimento global e aumentar as chances de recordes de temperatura serem quebrados”.
Um grande El Niño pode estar a caminho, e isso traz implicações climáticas em escala global. O aquecimento das águas do Pacífico causado pelo El Niño é um fenômeno natural e periódico, com sua última ocorrência entre 2018 e 2019. Esse fenômeno afeta o clima em todo o mundo, aumentando as temperaturas médias e causando secas intensas em algumas regiões, enquanto traz fortes tempestades para outras.
O último El Niño foi considerado fraco, mas o anterior, entre 2014 e 2016, teve uma intensidade significativa. Esse período também registrou a maior temperatura média da Terra desde que os registros começaram a ser feitos. Para este ano, especialistas da Universidade de Columbia projetam uma anomalia de 1,54 °C nas águas do Pacífico, classificando o fenômeno como moderado a forte.
No entanto, alguns modelos climáticos preveem um aumento ainda maior, entre 2,5 °C e 3 °C, sendo denominado pelos meteorologistas como Super El Niño. O boletim da WMO ressalta que ainda é cedo para prever com precisão a duração e a intensidade do próximo El Niño, especialmente durante o primeiro semestre de 2023. No entanto, Taalas enfatiza que o mundo precisa estar preparado para essa eventualidade.
O Brasil também será afetado pelo El Niño. Durante esse fenômeno, o país geralmente experimenta temperaturas mais altas em todo o território. Além disso, o padrão climático se reflete nas chuvas, trazendo maior precipitação para o sul do país, enquanto o Norte e o Nordeste enfrentam redução das chuvas.
Além dos impactos diretos, como inundações decorrentes das chuvas intensas e escassez de água devido à seca, o El Niño pode ter consequências econômicas ao afetar diferentes culturas agrícolas no país. Isso gera grande preocupação entre os agricultores, uma vez que a incerteza em relação à distribuição das chuvas pode prejudicar o plantio.
O cultivo de café, por exemplo, pode ser afetado devido aos invernos mais quentes, enquanto a alta umidade no Centro-Sul pode prejudicar o ritmo da safra e a moagem da cana-de-açúcar, impactando a produção de etanol. Por outro lado, a produção de milho e as áreas de pastagem do gado brasileiro podem se beneficiar das condições climáticas. No caso da soja, espera-se que a produção acompanhe a distribuição das chuvas, com maiores safras no sul, onde as chuvas aumentam, e safras menores em direção ao norte.
Diante dessas perspectivas, é fundamental que os produtores brasileiros se preparem para lidar com os possíveis efeitos do El Niño. A adoção de medidas de adaptação e planejamento adequado pode ajudar a mitigar os impactos negativos nas safras e na economia agrícola do país. Além disso, as autoridades devem estar atentas e oferecer suporte aos agricultores, fornecendo informações atualizadas e estratégias para enfrentar esse fenômeno climático. A colaboração entre especialistas em clima, organizações internacionais e o setor agrícola é fundamental para promover a resiliência e minimizar os prejuízos causados pelo El Niño.