Movimento é capaz de inserir produtores em políticas públicas que valorizem ativos ambientais gerados nas atividades
A COP 27 reúne neste momento representantes de todo o mundo em Sharm El-Sheik, no Egito, para debater temas ligados às mudanças climáticas. A conferência organizada pelas Nações Unidas é novamente uma ocasião para que, coletivamente, encontremos mecanismos cada vez mais eficientes e efetivos no combate ao aquecimento global e em prol da sustentabilidade e da preservação ambiental.
Para nós, cooperativistas, é também uma oportunidade para demonstrar e valorizar as ações sustentáveis que desenvolvemos e de como somos protagonistas na busca por soluções coletivas que efetivamente fazem a diferença para a conquista de um equilíbrio ambiental, justiça social e viabilidade econômica.
Na conferência de 2021, a COP26, o Brasil assumiu metas ambiciosas como a neutralidade de carbono até 2050, o fim do desmatamento até 2028 e o compromisso de redução de 30% da emissão de metano até 2030. O cooperativismo é peça fundamental para o alcance dessas metas, uma vez que a sustentabilidade faz parte do nosso DNA, sendo uma prática cotidiana e que gera resultados cada vez mais positivos e promissores.
Tanto que já somos referência mundial na produção sustentável. O agronegócio cooperativo é pautado em sustentabilidade e no desafio de alcançar uma economia neutra em carbono, com destaque para a redução das emissões de metano, seja transformando passivos em energia renovável ou implementando tecnologias que contribuam para a preservação ambiental e o consequente aumento da produtividade.
E foi justamente isso que destacamos em nossa participação no painel “A importância das cooperativas para o agro sustentável”, que contou também com a participação de dirigentes da CCPR (MG), Coopercitrus (SP), Cocamar (PR) e Coplana (SP). O painel fez parte do seminário Energia, Indústria, Agro e Investimentos Verdes, organizado pelo Ministério do Meio Ambiente no Pavilhão Brasil. Nossas ações se multiplicam nas mais de 1.200 cooperativas agro que temos registradas no Sistema OCB e quatro exemplos foram detalhados durante nossa participação na conferência.
A CCPR mostrou como se dedica a geração de energia renovável (fotovoltaica), ao tratamento de efluentes e a reciclagem de resíduos. Seu programa Prática Nota 10, por exemplo, incentiva o produtor a adotar procedimentos de gestão, de qualidade do leite, de infraestrutura e de bem-estar animal, reduzindo, segundo indicadores da Embrapa, mais de 40% das emissões de carbono.
A cooperativa conta também com o projeto Recicla Mais, que faz a destinação correta de cerca de dois milhões de embalagens de resíduos, seguindo orientações dos órgãos ambientais. Outra iniciativa é a usina fotovoltaica, que além de abastecer a própria coop também contribui com parte da demanda de energia da Santa Casa de Misericórdia, em Minas Gerais.
A Coplana, por sua vez, apresentou as iniciativas que adota para incentivar a agricultura de baixo carbono por meio de mudanças nos sistemas de produção e pioneirismo na logística reversa de embalagens adotada ainda na década de 1990 e que inspirou a criação de lei nacional sobre o tema. A rotação de culturas oportunizada pela cooperativa promove a recuperação do solo e a fixação biológica de nitrogênio contribui para o alcance da neutralidade de carbono. Outra iniciativa importante da Coplana é o projeto Top Cana, que classifica e certifica o produtor que esteja em consonância com os métodos de sustentabilidade do solo para que o ele consiga acessar créditos verdes na compra de insumos, equipamentos e outros. É um modelo que pode ser replicado em todo o Brasil.
A Coopercitrus é especializada em converter passivo ambiental em energia renovável para autoconsumo, além de liderar projetos de preservação e recuperação ambiental. Suas ações já permitiram, entre outras conquistas, a recuperação de 136 nascentes e o plantio de 21 hectares de florestas nativas. São dois projetos de destaque: o CooperSemear, que auxilia cooperados a recuperarem áreas de conservação de vegetação nativa, e o CooperNascentes, focado na restauração de minas d’água no campo.
Já a Cocamar é referência na adoção de tecnologias como a Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), que é o caminho para o alcance da neutralidade de carbono e de metano na atividade. A estratégia agrega diferentes sistemas produtivos, na mesma área e em épocas diferentes, para não “viciar” o solo e limitar a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa. Desde a adoção do programa reduziu-se de 11,5 para 1,5 de emissão de carbono com a integração e, projeções da cooperativa, estimam em que até 2030 serão contabilizados 35 milhões de hectares para a produção sustentável com o uso de tecnologias que contribuem para essa redução.
Por esses exemplos, acreditamos que o desafio de combater o aquecimento global só será superado com a participação de todos. E está aí o diferencial do cooperativismo, um modelo de negócios capaz de incluir pequenos, médios e grandes produtores nesta causa, pois potencializa a capacitação, a assistência técnica e a incorporação contínua de tecnologias sustentáveis pelos empreendedores rurais. Sendo assim, o cooperativismo é capaz de inseri-los em políticas públicas que valorizem os ativos ambientais gerados nas suas atividades. E, em específico sobre o mercado de carbono, nosso desejo é que esse mercado seja cada vez mais fluído, com baixo custo transacional, assim conseguiremos a massiva participação dos pequenos e médios produtores neste processo, e o alcance da neutralidade de carbono na economia mundial.
FONTE: JOTA