Estratégica para atrair investimentos institucionais, ferramenta financeira tem potencial para captar entre R$ 40 bilhões e R$ 60 bilhões anuais e contribuir para a descentralização do financiamento agrícola
O agronegócio é uma das maiores forças da economia brasileira, impulsionando o crescimento econômico e contribuindo de maneira crucial para a segurança alimentar global. No entanto, para garantir a evolução contínua do setor, é essencial que os produtores rurais tenham acesso a soluções financeiras mais eficientes e flexíveis.
É nesse contexto que surge a CPR-F (Cédula de Produto Rural Financeira), uma ferramenta financeira que tem se destacado como alternativa para o financiamento agrícola, oferecendo novas perspectivas tanto para pequenos e médios produtores quanto para investidores.
Diferente da tradicional Cédula de Produto Rural (CPR), que está atrelada à entrega física de produtos, a CPR-F é um título de natureza exclusivamente financeira. Ela permite ao produtor antecipar recursos, comprometendo-se a quitar a obrigação em dinheiro, utilizando a receita futura da comercialização de sua produção agrícola.
Com isso, o produtor pode obter liquidez imediata, seja para investir na próxima safra, modernizar equipamentos ou até expandir sua operação, garantindo uma gestão mais eficiente de seus recursos financeiros.
Segundo o Plano Safra, o crédito rural no Brasil ultrapassou R$ 400 bilhões na safra de 2023/2024. Já de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o mercado de CPRs movimentou mais de R$ 100 bilhões no ano passado, refletindo seu crescente protagonismo e ressaltando a importância do agronegócio como um dos setores que mais atraem recursos no mercado de capitais.
Instrumentos como a CPR-F têm potencial para captar entre R$ 40 e R$ 60 bilhões anuais, sendo estratégicos para atrair investimentos institucionais, como fundos que buscam diversificação de portfólio e exposição ao agronegócio.
As vantagens da CPR-F são evidentes. A antecipação de receitas é uma das mais destacadas, permitindo que os produtores mantenham suas atividades em pleno funcionamento até o período da colheita.
Além disso, esse instrumento amplia as fontes de financiamento disponíveis, uma vez que pode ser adquirido por uma ampla gama de investidores, como empresas e fundos de investimento, o que aumenta a concorrência e resulta em melhores condições de crédito para os produtores.
A flexibilidade dos prazos de pagamento, ajustados de acordo com as previsões de colheita e comercialização, também é uma vantagem significativa, diminuindo o risco de inadimplência e proporcionando maior tranquilidade ao produtor rural.
O impacto econômico da CPR-F no agronegócio é amplo. O aumento da oferta de crédito tem potencial para elevar a produtividade agrícola, incentivar o crescimento econômico de regiões rurais e gerar mais empregos. Além disso, com o aumento do número de investidores interessados em financiar o setor agrícola, os produtores ganham acesso a mais capital para expandir suas operações, investir em inovação e tecnologia e, em última análise, aumentar a produção.
Isso se reflete diretamente no crescimento do PIB do agronegócio brasileiro, consolidando ainda mais a posição do Brasil como potência agrícola global.
Outro ponto relevante é que a CPR-F contribui para a descentralização do crédito agrícola, diminuindo a dependência dos produtores em relação aos bancos tradicionais.
Essa diversificação no acesso a crédito traz mais autonomia e melhores condições de negociação, proporcionando um ambiente financeiro mais justo e competitivo para o setor.
Ao mesmo tempo, o instrumento tem o potencial de fomentar práticas agrícolas mais sustentáveis, já que, com maior acesso a crédito, muitos produtores podem investir em tecnologias que promovam o uso eficiente de recursos naturais, como a agricultura de precisão e sistemas de irrigação avançados.
No entanto, é importante destacar que a CPR-F também apresenta desafios. A volatilidade dos mercados de commodities e do câmbio pode afetar os valores de liquidação dos títulos, o que exige que produtores e investidores adotem estratégias de hedge para mitigar esses riscos.
Além disso, a familiaridade com o instrumento ainda é baixa entre muitos produtores e investidores, o que pode resultar em erros de interpretação ou dificuldades no cumprimento dos compromissos financeiros.
Por fim, o risco climático, uma realidade constante no agronegócio, não pode ser ignorado, e é essencial que os produtores se protejam com seguros agrícolas para evitar inadimplências.
A tendência é que o uso da CPR-F continue a crescer, impulsionado pelo aumento da confiança dos produtores e investidores no instrumento.
Com o apoio de incentivos governamentais e regulatórios, o Brasil tem uma oportunidade única de fortalecer ainda mais o agronegócio, promovendo seu crescimento sustentável e garantindo que o setor se mantenha competitivo em um cenário econômico global em constante transformação.
A CPR-F é, sem dúvida, uma peça fundamental nesse processo, oferecendo novas possibilidades de financiamento e preparando o agronegócio brasileiro para um futuro de ainda mais sucesso.
Daniel Olivieri é diretor de Produtos e Tecnologia (CPTO) da Grafeno, ecossistema de soluções financeiras digitais para credores e empresas.
Fonte: AgFeed