Número de produtores certificados subiu 20% em dez anos, diz entidade
Nos últimos dez anos, o número de produtores certificados no Brasil com o selo da “agricultura biodinâmica” cresceu cerca de 20%, segundo Alexandre Harkaly, diretor da Qima IBD, entidade responsável por certificar a produção. A prática agrícola sustentável, apresentada pelo filósofo Rudolf Steiner, ainda é um nicho de mercado, com 65 produtores rurais certificados, em variadas culturas agrícolas.
Assim como na produção orgânica, a agricultura biodinâmica veta o uso de agroquímicos, mas vai além, por exemplo, usando um “calendário agrícola biodinâmico”, que aponta a posição dos planetas, considera as fases da lua e as informações do zodíaco.
“É uma agricultura que visa tornar o solo fértil, as plantas saudáveis e o ambiente pleno. Para isso, identifica-se com os princípios da biodinâmica, respeitando os ritmos astronômicos para as práticas culturais. Numa linguagem antroposófica, é a espiritualização da terra e, numa linguagem técnica, é o fortalecimento do sistema radicular da planta, tornando-a mais resistente”, explica a agrônoma Luciana Gomes de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica (ABD).
O sistema agrícola foi apresentado por Steiner em 1924, na Polônia. Além do calendário astronômico, usa os chamados “preparados biodinâmicos” — algo semelhante à homeopatia — para pulverizar o solo e as plantas e adubos orgânicos, como biofertilizantes e chorumes. Segundo Luciana, as técnicas aplicadas no cultivo tornam as plantas mais resistentes a doenças, pragas e às mudanças climáticas.
O Brasil tem produção certificada de hortifrútis, café, arroz, grãos e cacau, além de uvas e azeitona para produção de vinhos e azeites biodinâmicos.
Samir Rahme, dono do Olivais de Quelemém, produz o primeiro azeite de oliva biodinâmico do Brasil, em Maria da Fé (MG). Segundo o olivicultor, foram cinco anos para converter a terra para o cultivo orgânico e mais um ano para chegar ao sistema biodinâmico. Para a safra atual, ele espera colher três toneladas de azeitonas para produzir 1.250 garrafas de 250 ml do azeite, que, segundo o produtor, tem vitalidade, sabor mais forte, frutado e gosto agradável na boca.
Luiz Fernando de Oliveira, pesquisador do setor de Olivicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que acompanha o desenvolvimento dos olivais de Rahme, conta que são apenas duas propriedades no país com a produção biodinâmica de azeite, ambas na Serra da Mantiqueira.
“São produtores que já tinham afinidade com essa filosofia e que estenderam a produção orgânica para a biodinâmica”, explica.
Vinho com mais taninos
Em Caçapava do Sul (RS), o enólogo Elison Postal levou a produção biodinâmica para uma das propriedades da vinícola da família, a Casa Postal. Em uma área de 30 hectares, ele cultiva também uvas, ameixa e pêssego para consumo in natura.
Assim como Rahme, Postal começou como produtor orgânico e depois migrou para o sistema biodinâmico. A premissa de usar uma espécie de homeopatia e de basear as etapas de cultivo no sistema solar chamou sua atenção.
“Assim como a lua influencia as marés, influencia na circulação dos líquidos presentes na planta”, explica.
Atualmente, a vinícola produz dois rótulos certificados de vinho biodinâmico — chardonnay e pinot noir —, com 2 mil garrafas de cada variedade por safra. Segundo ele, o modelo de cultivo resulta em uvas com película mais espessa, deixando os vinhos mais estruturados e com maior quantidade de taninos. A meta é que toda produção da vinícola seja no modelo biodinâmico.
Luciana, da ABD, observa que o sistema biodinâmico é fiscalizado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e reconhecido pela legislação brasileira. A base para o reconhecimento de uma produção como biodinâmica é a certificação orgânica. Depois, é preciso atingir as diretrizes biodinâmicas — mais rigorosas — para se obter o selo Demeter, denominação internacional da categoria.
Fonte: GloboRural